Eles estão vencendo, e o sinal está se fechando para nós

Cleverton Linhares
4 min readMay 26, 2020

Durante a campanha para as eleições presidenciais de 2018, em meio àquela zona que foi todo o processo permeado de ataques e boatos, uma coisa chamava a atenção por parte dos veículos de imprensa de direita: no plano de governo do candidato Fernando Haddad (PT), havia um tópico sobre regulamentar a imprensa. Muita gente teve medo, mas é bom lembrar que regulamentação, em vias gerais, é colocar parâmetros para que um setor se torne mais profissional e aqueles que fazem parte tenham mais credibilidade.

Hoje, qualquer um que liga una câmera e cospe opiniões no YouTube pode se dizer jornalista. Se bem me lembro, a profissão não exige mais diploma. Ou seja, puseram em pé de igualdade aqueles que passam pela academia e se especializam na profissão e o moleque de internet que posta discurso de odio com alguns dados avulsos misturados e que coloca em si mesmo o rótulo de jornalista.

A consequência disso é que qualquer um — repito, qualquer um — pode abrir um site mequetrefe a qualquer momento e ser considerado veículo de imprensa. Aí está o site O Antagonista, dono de pérolas como “Lyla preso amanhã” que não me deixa mentir.

Longe de mim defender o metalúrgico de nove dedos que vendeu seus ideais ao diabo com o pretexto de arrumar o Brasil. Teve muita coisa errada no governo dele sim, varios absurdos ditos e feitos. Mesmo com tudo isso, era um governo democratico onde, mal ou bem, imprensa era respeitada, gostasse do presidente ou não.

Pois bem, a imprensa num geral fez a mesma coisa que o Lula: vendeu seus ideais ao diabo com o pretexto de prezar por uma suposta liberdade, já que os gênios da interpreração de texto leram sobre regulamentação e entenderam como censura. Com isso, pripositadamente ou não, deram escada para que um sujeito inútil, ignorante, despreparado e autoritario do baixo clero assumisse a cadeira de presidente.

Até hoje me pergunto como quem são os iluminados da ciência politica que olharam para o presidente Bozo e pensaram: “esse é o homem que vai permitir a imprensa livre”.

Se lembrarmos que, durante a campanha, o Bozo fez questão de atar a Folha de São Paulo e a Rede Globo de Televisão, a coisa fica mais absurda ainda.

Ainda bem que o tempo e a idade me trouxeram sabedoria e maturidade o suficiente para ser racional e chegar a essa conclusão: eu não gosto da forma que a Globo e a Folha de São Paulo fazem jornalismo. Eles possuem um viés político e ideologico do qual eu não compactuo. Ainda assim, são veículos profissionais e seu trabalho merece respeito, assim como tantos outros que batalham para trazer informação de qualidade.

E não se engane. Não existe jornalismo puramente isento. Quem produz conteúdo tem sua visão de mundo própria. Cabe a quem quer se informar ouvir as diferentes fontes, observar os diferentes pontos de vista e tirar suas conclusões a respeito. Quem quer algo rápido e pronto, que vá fazer um miojo.

Depois de todo esse texto, chegamos em 2020. Globo e Folha declaram que desistem de cobrir a agenda do presidente por motivos de segurança. No dia anterior à data de publicação desse texto, repórteres foram hostilizados duas vezes naquele cercadinho onde o Bozo e seus asseclas (e não acepipes, Abraham) faz seus espetáculos para a platéia.

Francamente? Eu teria desistido muito mais cedo por conta do saco cheio. Todo dia é um festival de agressão, ofensa e deboche. O dia em que o Bozo resolveu fazer um collab e levou outro palhaço fantasiado de presidente para tirar sarro dos profissionais ali presentes, me perguntei como todos ali não recolheram seus microfones e foram embora.

Nos Estados Unidos, alguns veículos de comunicação decidiram não mais cobrir os pronunciamentos do presidente Donald Trump, alegando que não há nada de importante ali. No Brasil, caminhamos para isso.

De certa forma, isso não deveria ser surpresa. É um desejo comum de líderes autoritarios que a comunicação do país sirva apenas como máquina de propaganda de sias benfeitorias, mesmo que sejam todas mentiras. Os que não se dobram a esse papelão são censurados. A Venezuela de Chavez é um otimo exemplo. A unica emissora de TV de confiança do governo era a estatal. Não por acaso, ela só transmitia as coisas boas que o regime chavista havia feito no país. A mesma coisa na Coreia do Norte.

Aqui não é muito diferente. Ao tomar posse, Bozo divulgou uma lista de “fontes de informação de confiança”. Era uma lista com sites e canais do YouTube que cresceram às custas de fazer propaganda do seu espetáculo de horrores.

Com esses exemplos, espero que tenha ficado claríssimo a importância de uma livre. A nossa, que já não dispunha de muita liberdade, agora se vê atacada pela platéia do Bozo, que inclusive estimula e endossa mais ataques. Afinal de contas, ele não quer ser “atacado”, então prefere atacar primeiro. Só que nesse caso, além de sua máquina de destruição de reputações, seus fãs lunáticos partiram para a agressão física.

Aliás, muito curioso é o fato de que o povo esteja censurando o trabalho dessa gente. Porque o povo lá atrás dizia que o problema era o Haddad. A regulamentação dele seria uma forma de censura. Mas agora estamos vivenciando tempos sombrios de censura por parte do próprio povo e estimulado pelo Bozo. Ele achincalha e sua platéia desse a porrada.

Sabe quem é o próximo da lista? Você que está lendo esse texto. Hoje eles perseguem e tentam calar os grandes veículos, lá na frente pode ser o mero mortal que quer postar uma crítica no Facebook. Governos autoritários não aceitam críticas, querem distorcer a verdade a qualquer custo para que a realidade do povo não seja a que existe de fato, mas a que eles querem moldar para se garantir mais tempo no poder.

Você pode não gostar da Folha de São Paulo. Tá bom, leia outras fontes. Não vai com a cara da Globo? Tudo bem, mude de canal. Concorrência existe pra isso. Só não tire deles o direito de expressar e trazer a realidade dos fatos a quem interessa. A porrada hoje pode ser neles. Mas não se preocupe, pois breve chegara até você.

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Cleverton Linhares

Engenheiro frustrado. Tenho vontade de falar de tudo para todo mundo, mas como ninguém me ouve, resolvi escrever qualquer coisa pra quem quiser ver.