E daí?

Cleverton Linhares
4 min readApr 29, 2020

O presidente não se importa com a sua morte. Não se importa se você ou alguém próximo está em um leito de hospital lutando pela vida. Também não se importa com que existe uma crise que está causando um estado quase de terra arrasada, colapsando o sistema de saúde e abandonando à própria sorte milhões de brasileiros.

“Eu sou Messias, mas não faço milagres!”

ELE NÃO SE IMPORTA! O QUE IMPORTA É APENAS O SEU PROJETO DE PODER PARA SI E PARA SEUS FILHOS!

Nesse exato momento, a Europa começa a flexibilizar a quarentena em seus países. alguns adotaram a política do lockdown, isto é, ninguém pode mais sair de casa a não ser pro que for estritamente necessário. Mesmo Itália e Espanha, que viveram tempos catastróficos, nesse momento, com políticas firmes contra a pandemia e a adesão do povo, já sonham em permitir que seu povo possa sair de casa e viver um pouco.

No Brasil, nós estamos nas mãos de atitudes isoladas de alguns governadores e prefeitos, que não contam com o respaldo do governo. E digo alguns, porque em vários locais do Brasil a necropolítica está a todo vapor. Governadores e prefeitos mais preocupados com o dinheiro na rua do que com a vida dos cidadãos. Assim como o presidente que, fechado no conforto de seu palácio, quer “assumir o risco” do pobre ir trabalhar e ter que morrer, ao invés de adotar uma política pública de sustento da população e dos pequenos negócios, para que ninguém precise sair de casa.

Eu pouco me importo que o senhor seja um messias, nunca pedi por isso. Tampouco um milagre, já que sequer acredito nisso. Eu queria alguém que se comportasse como presidente, e ao invés disso elegeram um palhaço ignorante, egoísta cuja unica coisa que sabe fazer, segundo ele próprio, é matar.

“O que vocês querem que eu faça?”

Ódio já não define o que sinto quando escuto essa frase. Não é a primeira e, enquanto estiver no cargo, não será a última.

Quando o Museu Nacional pegou fogo por conta da negligência que vinha sofrendo ao longo dos anos, queríamos que ele abrisse os cofres para financiar um projeto de reforma e revitalização daquele lugar. Aliás, o ideal seria que isso fosse feito antes para evitar uma tragédia. Como o evitável aconteceu, o mínimo é que algo fosse feito. Mas demonstrando total desrespeito e desprezo pelo conhecimento, pela história e ciência, a resposta foi

“Já pegou fogo mesmo, o que vocês querem que eu faça?

A mesma resposta foi dita enquanto a maioria do Brasil chorava, lamentava, se compadecia e pedia explicações sobre a morte da vereadora Marielle Franco. Um crime político brutal, sem respostas até hoje e cujo caso a família do presidente está envolvida até o pescoço. Curiosamente, quando questionado, ele que é amigo e vizinho dos homens que a mataram, mais uma vez demonstrando desprezo e desrespeito pela vida humana, disparou:

O que vocês querem que eu faça?

Detalhe: dessa vez estamos falando da morte de alguém que se importava com a vida dos outros. A vida do pobre que levanta de madrugada e só volta tarde da noite pra colocar algum sustento na mesa de sua família, incluindo o policial que o presidente diz que jura honrar, mas em mais de 30 anos de vida pública jamais se dignou a fazer algo por eles e suas famílias, a não ser aqueles milicianos cheios de dinheiro sujo para os quais ele prestou alguns favores. Policial honesto, não. Quem defendia, se importava com o policial honesto no Rio de Janeiro, que põe a sua vida em risco por uma merreca em nome da segurança do povo carioca era a Marielle.

Coisas do destino que nos deixam arrasados. Quem se importa com as nossas vidas, morreu. Quem as negligencia em troca de seu próprio poder, está vivo.

O que eu quero, presidente, é que você tome vergonha na cara. E aqui eu preferi não usar mesmo o pronome de tratamento correto, pois não há merecimento. Mais errado do que a gramática é tratar alguém com o devido respeito um sujeito que não se comporta à altura do cargo que ocupa.

Se não for possível, o que eu quero é que o senhor vá preso por todos os crimes que cometeu desde que assumiu a cadeira de presidente. Ou, se isso não for possível, que o senhor saia da cadeira de presidente e deixe que outra pessoa, mais qualificada e competente, assuma o comando disso tudo e nos tire dessa maluquice em que nos encontramos e têm destruído nossa saúde física e mental.

E mesmo que não haja mais saída e acabemos todos por morrer, o que eu quero é que ao menos o senhor suma das nossas vidas, pra dizer o mínimo. Nos deixe ao menos aproveitar o resto de nossas vidas em paz, ao invés de passarmos raiva todos os dias com mais aberrações que saem da sua boca.

Chega de ouvi-lo defendendo o indefensável.

“Se o povo não sair de casa, a economia vai quebrar”

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Cleverton Linhares

Engenheiro frustrado. Tenho vontade de falar de tudo para todo mundo, mas como ninguém me ouve, resolvi escrever qualquer coisa pra quem quiser ver.