O único valor que o capitalismo reconhece é o monetário

Cleverton Linhares
3 min readJun 13, 2022

Respeito, igualdade, diversidade. Estes são valores universais que deveriam nortear o comportamento civilizatório humano e ensinados a todos nós desde criança. Valores que, por não carregar uma cifra consigo, o capitalismo não enxerga.

E o jogo entre Vasco e Cruzeiro ontem é um exemplo explícito de tal comportamento ganancioso.

E sim, vou falar do Clube De Regatas Vasco Da Gama mais uma vez!

Para quem não é do mundo do futebol, fica aqui a contextualização: embalado na segunda divisão do campeonato brasileiro e enchendo os estádios em todos os jogos, o torcedor do Vasco demandou um local maior para o jogo contra o Cruzeiro, atual líder da competição. Por um acaso, foram mais de 60 mil ingressos esgotados em 48 horas.

Aproveitando este espaço midiático, o clube quis levar veicular uma mensagem institucional onde resgata a sua história como clube que sempre esteve ao lado do povo.

Bom, não vou me alongar contando a história dos camisas negras e a luta do Vasco contra o racismo desde 1923. Já tem texto publicado aqui, hino de torcida, uma vasta literatura na crônica esportiva e tudo mais. O foco aqui não é esse, mas sim o fato do consórcio que administra o Maracanã, vulgo maior templo do futebol nacional, o esporte do povo, ter proibido a veiculação da mensagem.

Segue abaixo o trecho final da nota do próprio clube a respeito da decisão tomada, pelo visto, sem um motivo plausível aparente:

Por fim, o Maracanã possui um espaço para mensagens institucionais, à beira do campo, no setor leste. É aquela mensagem visível nas transmissões televisivas, com dizeres escolhidos pelos clubes, direcionados aos espectadores.

O Vasco apresentou a mensagem a ser veiculada na partida deste domingo, o que foi vetado pelo consórcio. A mensagem que o Clube pretende disponibilizar é a seguinte:

“Desde 1898 o legítimo Club do povo /// Respeito, Igualdade, Inclusão”

Mais uma vez, o motivo do veto não foi explicado, o que nos leva a crer que haja algum tipo de censura à mensagem que o Vasco pretende veicular.

Demandamos o restabelecimento do valor previamente determinado pelo consórcio para o uso do Maracanã pelo Vasco, o mesmo valor que pagam os demais clubes do Rio; demandamos o restabelecimento da participação do Clube sobre as vendas nos bares e restaurantes do estádio no dia da partida; e demandamos a veiculação da mensagem do Clube na lateral do campo.

Demandamos, enfim, o respeito à história do Vasco da Gama e às regras vigentes que garantem condições iguais para os clubes cariocas que usam o estádio.

Nenhuma destas demandas se afasta do trato normal a um grande clube do Rio de Janeiro.

Infelizmente, o Vasco da Gama encontra um tratamento paralelo àquele recebido no início do século passado. Mudam as regras mas não impedirão nosso clube de exercer sua grandeza de sempre.”

Curiosamente, o time foi proibido de veicular sua própria mensagem, mas quando o patrocinador, encontrando um jeito de burlar a proibição e de olho na publicidade que o ato traria para sua marca, coloca a mesma mensagem na placa de publicidade, não há nenhuma do consórcio se escandalizando ou se manifestando contrário à publicidade.

Conta-se que quem manda no consórcio é a dupla Flamengo e Fluminense, e por esta razão, já existe uma má vontade por natureza de ceder a qualquer coisa que o rival queira fazer no Maracanã. Isso não deveria, no entanto, ser motivo para proibir alguém de falar sobre respeito, igualdade e diversidade, ainda mais em um espaço normalmente tóxico como é o estádio de futebol.

Mas aparentemente tudo bem quando é para faturar algumas cifras em cima disso. Valore morais são vazios de significado aos olhos do capitalismo quando não são acompanhados de cifra. Porque o verdadeiro valor que ele enxerga não é o social, e sim o monetário.

Que lembremos deste dia e deste caso, sobre tudo você torcedor vascaíno que tem uma história a zelar, como uma exposição de como é perverso aquilo que permeia e ao mesmo tempo centraliza toda forma de preconceito, intolerância e desprezo por aquilo que deveria ser mais caro à sociedade.

O capitalismo faz mal ao nosso coração, nossa alma e nossa história.

https://www.youtube.com/watch?v=TyuuAlSB56k

--

--

Cleverton Linhares

Engenheiro frustrado. Tenho vontade de falar de tudo para todo mundo, mas como ninguém me ouve, resolvi escrever qualquer coisa pra quem quiser ver.